O Pavimento Pélvico

O termo Pavimento Pélvico (PP) está cada vez mais presente no nosso dia-a-dia. Mas o que é? Será que temos consciência dele, da sua localização e do modo como funciona?

O PP é uma estrutura complexa da qual fazem parte ligamentos, músculos, fáscia, nervos e vasos sanguíneos. Esta estrutura tem um papel importante no todo que é o nosso corpo. Imaginemos uma casa, a porta de entrada é constituída pelo músculo transverso abdominal, a porta das traseiras corresponde aos multífidos, o chão da casa é constituído pelos músculos do pavimento pélvico e o telhado é constituído pelo diafragma. Este cilindro de estabilidade é constituído pelos músculos profundos cuja atividade deverá estar presente em todos os movimentos. Pela sua constituição muscular e pelas suas ligações ao diafragma, o pavimento pélvico tem uma amplitude de movimento disponível, fundamental para o desempenho das suas funções. Podemos dizer que o PP, assim como o diafragma, também respira. 

Quais as funções do Pavimento Pélvico?

O PP desempenha um conjunto de funções de extrema importância:

  1. Suporte dos órgãos pélvicos (bexiga, útero, reto) e proteção contra o aumento da pressão intra-abdominal;
  2. Contribui para a continência de esfíncteres;
  3. Intervém na estabilidade lombo-pélvica pela sua relação com o cilindro de estabilidade;
  4. Permite que a penetração ocorra e pela sua relação de proximidade com o clitóris, assume um papel importante na função sexual. 

Não podemos dissociar a pélvis do resto do corpo, nem tão pouco dividi-la em compartimentos. As funções urinárias, anoretal e sexual estão interligadas e funcionam como um só.

Como Funciona um Pavimento Pélvico?

Em meados de 1950, o alemão Arnold Kegel estudou a importância do pavimento pélvico e do seu treino no tratamento de disfunções como a incontinência urinária. Percebeu-se que, como qualquer outro grupo muscular, os músculos do PP têm a capacidade de contrair e de relaxar de forma voluntária. Têm também uma atividade basal ou tónica, de repouso, que auxilia na continência e na manutenção de uma postura adequada. Esta atividade é inconsciente embora possa ser inibida conscientemente para urinar, defecar ou permitir que a penetração ocorra.

Idealmente é isto que encontramos num pavimento pélvico saudável. Contudo, são cada vez mais frequentes alterações nas funções desta estrutura que conduzem a sintomas como incontinência urinária, dor perineal, incontinência fecal, dificuldade em conter os gases, obstipação, vaginismo, entre outros. Se até há uns anos atrás associávamos estes sintomas a um PP “fraco”, atualmente sabemos que muitas destas situações têm na sua origem um PP hipertónico, encurtado, capaz de contrair mas que não relaxa.

Como é que surge esta hipertonia?

Um PP “encurtado” é potenciado por muitos dos nossos hábitos diários e estilos de vida. Passamos os dias a correr. Corremos de casa para ao trabalho, do trabalho para outros afazeres. Nesta correria, não escutamos o nosso corpo. Uma vontade de urinar que é adiada porque agora não dá jeito ou um intestino que quer esvaziar, mas só pode ser em casa. Quase todos nós temos este comportamento. Esta inibição ou atraso no esvaziamento da bexiga ou intestino é conseguida á custa de uma contração voluntária dos músculos do PP, obrigando-os a trabalhar em sobrecarga. Exercício de alto impacto, trauma direto ou cirurgia (parto e episiotomia), alterações posturais (posturas mantidas e assimétricas) conduzem também a um encurtamento destas estruturas. Do mesmo modo, também a ansiedade e o stress influenciam este encurtamento, pelas alterações que induzem no padrão respiratório e também pela influência no posicionamento do cóccix, onde se inserem todos os músculos do pavimento pélvico. Quando andamos ansiosos frequentemente adotamos uma posição de “rabinho entre as pernas”, o que vai contribuir para o aumento da tensão do pavimento pélvico, e consequente encurtamento.

Então, como podemos prevenir estas alterações?

Caso alguns dos sintomas referidos anteriormente já estejam presentes, é importante procurar ajuda terapêutica. No entanto, a melhor solução é a prevenção, através da educação para a comunidade permitindo um melhor conhecimento do funcionamento e importância desta estrutura. Este conhecimento vai conduzir-nos à adoção de hábitos diários que nos permitam manter um PP saudável como a pática de exercício regular, uma boa alimentação e hidratação, respeitar a vontade de ir ao WC e sobretudo, corrigir a nossa postura e o padrão respiratório.  

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