A Fisioterapia na Função Sexual Feminina

A OMS define sexualidade com “um aspeto básico do ser humano que engloba sexo, identidade sexual, orientação sexual, erotismo, intimidade e reprodução”. É uma “energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade, que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. Influencia os nossos pensamentos, ações e interações e, por isso, influencia a nossa vida física e mental”.

 Na Pirâmide das Necessidades de Maslow a sexualidade está na base, a par da respiração, da alimentação, do sono, da homeostase e excreção. É fácil perceber como a saúde sexual, é um aspeto fundamental para a nossa qualidade de vida. Ela é influenciada pelos nossos relacionamentos, o género, os pensamentos e sentimentos, valores e crenças e pelo nosso corpo. Aqui destacamos o papel do Pavimento Pélvico (PP). Alterações nesta estrutura podem conduzir a alterações na função sexual.

O PP é constituído por diferentes estruturas e grupos musculares. É fundamental e indissociável do “todo” que é o nosso corpo mantendo uma estreita relação com outros grupos musculares como o diafragma, os multífidos e o transverso abdominal, importantes para a estabilidade do nosso corpo. Como qualquer outro grupo muscular, o PP tem uma amplitude de movimento disponível, que é fundamental para que exerça as suas funções. 

Como é que o PP influencia a função sexual?

Arnold Kegel foi um visionário que estudou a importância do treino dos músculos do PP no tratamento de disfunções como a incontinência urinária (IU). A par desses estudos, verificou que algumas mulheres reportaram um aumento das sensações eróticas nos genitais e maior capacidade de experienciar um orgasmo. Daqui começou a perceber-se a influência do PP na função sexual. Da mesma forma, percebeu que mulheres com IU e/ou fecal apresentavam um medo exacerbado de perdas durante o ato sexual, fato que inibia a sua excitação. Bo et al, também verificaram que mulheres com incontinência urinária de esforço que realizavam um plano de exercícios dos músculos do PP demonstraram melhoria da qualidade de vida e da função sexual.

O PP tem a capacidade de contrair/relaxar e tem também uma atividade tónica, de repouso, que auxilia a continência e a postura. Esta atividade é inconsciente mas pode ser inibida conscientemente para urinar, defecar ou permitir que a penetração ocorra. No entanto, é cada vez mais frequente encontrarmos pacientes com alterações destas estruturas, apresentando quadros de hipotonia (diminuição na força de contração) ou hipertonia (encurtamento destes músculos e incapacidade de relaxamento). 

 Um PP encurtado, que contrai mas não relaxa, vai desenvolver um conjunto de sintomas que na função sexual podem levar a incapacidade de penetração (vaginismo) ou dor na penetração (dispareunia). Perante uma situação de dor a tendência será aumentar a contração e consequentemente teremos mais dor, entrado num ciclo de dor e medo. Para além disso, um PP contraído diminui a circulação sanguínea na zona clitoriana diminuindo a excitação e desejo sexual. Mulheres com IU também podem apresentar menor desejo e excitação com medo das perdas.

Ambas as situações, hipertonia ou hipotonia, afetam significativamente a qualidade de vida da mulher. Para ter uma resposta sexual desejável é necessário um PP funcional.

A Fisioterapia assume um papel de destaque na avaliação e tratamento da função dos músculos do pavimento pélvico, através da educação para a mudança de hábitos e comportamentos diários que contribuam para a dor/disfunção, através de exercícios de consciencialização destes grupos musculares e da sua adequada contração e relaxamento, ensino e consciencialização do padrão respiratório correto, alongamentos, reeducação postural global e técnicas específicas de terapia manual. O objetivo será restaurar a função do pavimento pélvico e diminuir a dor, contribuindo para uma resposta sexual desejável.

É importante perceber que a Fisioterapia APENAS ATUA na função dos MPP! Para garantir o sucesso da recuperação uma abordagem multidisciplinar, Ginecologista-Psicoterapeuta/Terapeuta Sexual-Fisioterapeuta, será o ideal. 

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