Ser Fisioterapeuta em Casa

No dia 9 de Março iniciava mais uma semana de trabalho, atarefada como sempre, longe de imaginar que chegaria ao fim dessa mesma semana a suspender toda a minha agenda. Aulas de Pilates, Consultas de Saúde da Mulher, Domicílios. Tudo cancelado por tempo INDETERMINADO!

Mais do que uma difícil decisão, foi uma certeza que foi crescendo ao longo dos dias. Não havia outra alternativa. Em “modo piloto automático”, fui informando os meus utentes e alunos e do outro lado ouvi , quase sempre, uma palavra de compreensão e de conforto. Era a decisão acertada a tomar.

Ok, agenda cancelada e agora? Trabalho cerca de 10h por dia (estou a ser simpática) 6 dias por semana e do nada vou estar em casa TODO O DIA, TODA A SEMANA. Já não me recordava de passar tanto tempo em casa, desde os meus tempos de infância. Pensei para mim : “porreiro, vou ter tempo de estudar as centenas de artigos que tenho na minha secretária à espera de serem lidos “. Vou ter tempo de me reorganizar e de repensar o rumo da minha vida pessoal e profissional. Erro meu.

Na tentativa de manter o acompanhamento, ainda que através de um computador, a alguns alunos de Pilates e utentes, a preocupação com a família e com os amigos, as horas em frente à televisão ou nas redes sociais a ler as últimas notícias sobre a pandemia, pouco tempo (e vontade) sobra para fazer o que quer que seja.

Uma sensação de irrealidade acompanha os meus dias, mas estranhamente permaneço calma. Não sei quando vamos retomar e mais importante ainda, como o vamos fazer. Que alterações vou ter de introduzir na minha rotina diária? Como ser Fisioterapeuta nesta nova realidade?

Um mês depois ainda não tenho todas as respostas a estas questões. Sempre que falo com amigos e com outros colegas de profissão vejo neles as mesmas dúvidas e as mesmas perguntas. Alguns adaptaram-se e continuaram a trabalhar no terreno, outros adotaram as sessões de acompanhamento on-line, outros cessaram por completo as suas actividades. Mas a pergunta continua suspensa no ar, como vamos ser Fisioterapeutas nestes novos tempos?

Ser Fisioterapeuta é Ver, Ouvir e Tocar. As mãos são a nossa principal ferramenta de trabalho. Com o isolamento e o distanciamento social definidos como sendo as melhores armas de defesa contra o Covid-19, como vamos continuar a exercer a Fisioterapia?

Sei que as respostas vão surgir à medida que formos percorrendo este caminho. Protegendo-nos e protegendo quem nos procura, respeitando as normas que nos vão sendo transmitidas por aqueles que estão acima de nós, sempre em prol do bem-estar e da saúde de quem nos procura. Mas sei também que esta pode ser uma boa oportunidade para mudarmos o rumo da Fisioterapia.

A Fisioterapia não é só aplicar um conjunto de técnicas, é também ouvir, ver, aconselhar e educar os nossos utentes. Grande parte do processo de recuperação passa pela compreensão que os utentes têm dos seus problemas e sobre a forma de como no seu dia-a-dia, podem contribuir para melhorar os sintomas e evitar recidivas. Até hoje, neste processo de educação era comum encontrar sempre alguma resistência do nosso interlocutor, que considerava que só o “poder” das nossas mãos e das técnicas usadas seriam suficientes. No meio desta adversidade, poderá ser a nossa oportunidade de conseguir que o utente perceba a importância do seu papel na sua própria recuperação.

Enquanto esse dia não chega, esperamos, observamos e preparamos o momento em que entraremos em cena novamente.

Até lá, cuidem-se!

Leave A Reply

Navigate