Incontinência Urinária

A Internacional Continence Society (ICS) definiu Incontinência Urinária (IU)  como qualquer perda involuntária de urina. Em Portugal, 1 em cada 5 portugueses com mais de 40 anos sofre desta patologia, correspondendo a 20% da população. As mulheres são o grupo mais afetado.

A IU pode ser classificada como IU de Esforço (IUE) , de Urgência (IUU) ou Mista. A primeira é a forma mais comum de incontinência e caracteriza-se por pequenas perdas de urina em situações de esforço como por exemplo, saltar à corda, correr, rir , tossir, espirrar ou levantar pesos. (Luber et al, 2004)

A IU por Urgência ou Imperiosidade , resulta de uma contração da bexiga, espontânea ou provocada, acompanhada de uma vontade súbita e intensa de ir à casa de banho. Este tipo de incontinência parece ter relação com o processo de envelhecimento, mas também surge em idades mais jovens, associada por exemplo, a doenças neurológicas.

Em alguns casos, podemos encontrar características das duas formas de incontinência e então temos um quadro de IU Mista.  

Apesar da elevada prevalência e impacto significativo na qualidade de vida dos seus portadores, a incontinência urinária continua a ser um tema tabu, vivido em silêncio anos a fio, atrasando o processo de cura. Em prática clínica,  é cada vez mais frequente encontrar mulheres que vêm procurar ajuda depois de 10, 15 ou 20 anos de sintomas de perdas, muitas vezes sem partilhar a sua angústia com mais ninguém. De acordo com a Associação Portuguesa de Urologia, apenas 10% dos utentes  recorrem ao médico por problemas de incontinência. A vergonha e o medo das perdas em público, ou o receio de que as pessoas possam sentir o cheiro a urina conduz muitas vezes ao isolamento, interferindo de forma negativa com as suas relações pessoais e sociais.  

Em utentes mais jovens, é comum ouvir relatos sobre a mãe ou a avó que durante anos sofreram com perdas de urina e por isso, assumem que é uma situação normal. A publicidade a pensos diários ou fraldas para incontinência , também podem perpetuar a ideia errada de “normalidade” e atrasar a procura de ajuda especializada.

Os processos que levam à IU não são totalmente claros mas no caso da IUE , pensa-se que poderá ter origem numa hipermobilidade da uretra relacionada com a perda de suporte estrutural dos músculos do pavimento pélvico e estruturas ligamentares. Fatores como a gravidez e o parto, o número de partos, cirurgias pélvicas, cancro e radioterapia, o envelhecimento, a menopausa, neuropatias ou fatores genéticos relacionados com o colagénio, podem conduzir a essa perda.  A Internacional Consultation on Incontinence descreve ainda como fatores de risco modificáveis a obesidade, a atividade física de alto impacto , o tabaco e a obstipação.

Atualmente existem várias opções terapêuticas que visam a resolução dos sintomas da  IU e consequente melhoria da qualidade de vida. Para além dos procedimentos cirúrgicos e terapias medicamentosas, também a fisioterapia assume papel de destaque na recuperação destes doentes, sobretudo nos casos de IUE.

Em 1948, Arnold Kegel  estudou o efeito dos exercícios dos músculos do pavimento pélvico no tratamento da IU, tendo encontrado taxas de cura de 84%. Ao longo dos anos os exercícios deste grupo muscular, têm sido uma opção válida para o tratamento da IU e resulta numa recuperação completa ou pelo menos numa melhoria considerável, de 60 a 70% das mulheres com IUE.

O Fisioterapeuta, após a avaliação inicial, define um plano de intervenção específico para cada paciente. É importante perceber o início dos sintomas e explicar ao utente os processos e comportamentos que podem estar na origem do seu quadro clínico. Técnicas específicas de terapia manual e de facilitação muscular, educação e aconselhamento, e exercícios dos músculos do pavimento pélvico, são fundamentais para a resolução dos sintomas permitindo ao utente recuperar o controlo da sua vida.

É urgente perceber que a IU não é normal. Caso apresente sintomas de perdas de urina, procure informar-se com o seu Médico ou Fisioterapeuta . Não sofra mais em silêncio.  

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