A B C do Pilates Clínico

Nos últimos anos a procura do Pilates Clínico tem sido cada vez maior. Motivada pela curiosidade ou simplesmente porque virou “moda”, é frequente ouvirmos o vizinho ou a amiga dizer que fazem Pilates, é frequente o nosso médico ou terapeuta aconselharem a sua prática regular e até na rádio já podemos ouvir anúncios que fazem referência ao Pilates como uma prática cada vez mais comum no dia-a-dia dos Portugueses.

       São vários os fatores que têm conduzido a uma procura crescente desta modalidade de exercício terapêutico. Para conseguirmos alcançar os benefícios do Pilates Clínico é importante perceber como ele atua e quais são os princípios que o regem.

       Todos os dias encontro pessoas com expectativas ou ideias muito díspares umas das outras, relativamente ao Pilates. Algumas vêm receosas porque acham os exercícios muito difíceis, outras vêm com a ideia que uma aula de Pilates Clínico é pouco “mexida” e portanto não é coisa para elas. Uma ideia muito comum é a de que o Pilates só se faz com bola. No entanto, para conseguirmos chegar aos exercícios com bola ou com qualquer outro material, primeiramente temos de aprender quais são os princípios chave do Pilates Clínico e como aplicá-los. Sabemos que o Pilates Clínico faz bem à saúde, mas como é que chegamos a esse “bem”? 

        O Pilates Clínico é uma modalidade de exercício terapêutico que consiste “num método corpo-mente cujo objetivo é melhorar o equilíbrio entre a performance e o esforço, através da integração do movimento a partir de um centro estável e cinestesia aumentada à periferia”. Para conseguirmos alcançar este equilíbrio temos de nos seguir pelos três alicerces desta modalidade, o alinhamento (A) a respiração (B) e o centro (C). 

       Comecemos então pelo A do Pilates. O alinhamento pressupõe uma consciência do correto posicionamento das várias regiões do corpo (cervical, dorsal, lombar, pélvis e membros) e da relação entre elas. É muito comum no nosso quotidiano lidarmos com utentes que, para além de dor, não se identificam com a imagem que eles próprios e os outros têm de si. Uma cervical anteriorizada ou com inclinação lateral, ombros enrolados para a frente, cifose exacerbada ou ainda um achatamento ou aumento da lordose lombar, são padrões de posicionamento inadequados que vemos frequentemente. Na maioria dos casos as pessoas não têm noção destes padrões e vivem assim durante anos, até que começam a sentir dor ou desconforto. Quando iniciamos o Pilates Clínico é de extrema importância que o utente tome consciência destes padrões incorretos e aprenda como os corrigir ou minimizar. 

      O padrão respiratório constitui o princípio B (breathe) do Pilates Clínico. Respirar é um ato inconsciente. Eu não acordo a pensar que tenho de respirar. Embora seja algo natural e fundamental para a vida, com o stress, a agitação diária, o sedentarismo, posturas inadequadas no trabalho ou na escola, frequentemente desenvolvemos um padrão respiratório incorreto e ineficaz. Em Pilates Clínico pretende-se que ocorra uma expansão bilateral da região torácica lateral com o mínimo de respiração apical. Os componentes da respiração são muito importantes pois contribuem para a estabilidade da coluna vertebral, promovem uma adequada troca gasosa durante o exercício, relaxam a região superior do corpo e auxiliam a mobilização da grade costal. Para a maioria dos utentes, este é o principio de Pilates mais difícil de executar. 

     E o que é o centro (C)? Joseph Pilates chamava a este centro, a “Powerhouse” ou a “casa forte”. Em Pilates Clínico usamos o termo de cilindro de estabilidade para o definir. Imaginemos uma casa, a porta de entrada é constituída pelo músculo transverso abdominal, a porta das traseiras corresponde aos multífidos, o chão da casa é constituído pelos músculos do pavimento pélvico e o telhado é constituído pelo diafragma. Este cilindro de estabilidade é constituído pelos músculos profundos cuja atividade deverá estar presente em todos os movimentos. Estes grupos musculares têm o importante papel de nos dar estabilidade para que o movimento ocorra com a maior qualidade possível. Todos os exercícios do Pilates Clínico pressupõe uma pré-ativação deste cilindro de estabilidade permitindo que o movimento se desenrole sobre esta base estável. 

         Deste modo, para que o Pilates Clínico tenha o impacto positivo pretendido, temos de ter sempre presentes estes três pilares fundamentais. Começamos por trabalhar a consciencialização e ativação destes grupos musculares (C) num correto alinhamento do tronco e membros (A) mantendo um padrão respiratório adequado (B). A partir daqui, vamos progredir aumentando o desafio dos exercícios, impondo cargas, trabalho de coordenação ou equilíbrio, aumentando a sua complexidade, estabelecendo sinergias entre os grupos musculares mais profundos e os superficiais, tendo em vista a sua implementação funcional nas diversas atividades da vida diária. 

        O Pilates Clínico torna-se assim, numa importante ferramenta passível de ser usada em quase todas as pessoas, com ou sem quadro de dor ou incapacidade instalada, permitindo ir de encontro às necessidades funcionais de cada utente. A repetição e a variabilidade dos exercícios vão permitir que a ativação do cilindro de estabilidade seja cada vez mais eficaz mantendo um alinhamento e um padrão respiratório adequados. Uma vez aprendidos, devemos certificar-nos que durante a execução dos exercícios de Pilates estes elementos chave estão SEMPRE presentes.

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